quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Luxemburgo: Juncker diz-se pronto a ser primeiro presidente do Conselho da UE

O primeiro-ministro luxemburguês, Jean-Claude Juncker, afirmou ontem que não declinaria o convite para se tornar o primeiro presidente do Conselho da União Europeia (UE), em entrevista publicada na edição de terça-feira do jornal francês "Le Monde".

"Se fosse convocado, não teria razão para recusar, com a condição de ser apoiado por ideias ambiciosas para este cargo", declarou Juncker na entrevista.

Há algum tempo que o nome de Juncker, o mais velho dos primeiros-ministros em exercício da UE, é citado como possível candidato para a função de presidente do Conselho da UE, cargo previsto pelo Tratado de Lisboa, se este entrar em vigor.

Embora seja facto notório no Luxemburgo que Juncker há muito ambiciona e se prepara para este cargo, esta é uma das primeiras vezes que o chefe de Governo luxemburguês manifesta claramente e ao nível internacional o seu interesse.

"Aprendi que não é necessário apresentar-se como candidato para um cargo destes. É preciso deixar que chegue a chamada dos outros", disse ao "Le Monde".

Juncker, há muito na corrida

A candidatura de Juncker deve ser encarada seriamente e vê-se reforçada em diversos pontos.

Juncker é considerado pelos seus pares da UE como uma personalidade com carisma e de fortes convicções europeias. Como o mais velho dos primeiros-ministros em exercício da UE (desde 1995), os seus pares reconhecem-lhe como qualidades, além de longevidade política, a de Juncker trabalhar há 15 anos com afinco em prol da construção e da coesão europeias.

O luxemburguês tem chefiado com mestria o Eurogrupo.

Foram-lhe inteiramente atribuídos os louros por o Grão-Ducado ter votado em 2005 (com 56,52% de "sim") a favor da Constituição Europeia. O que veio apenas reforçar a nível internacional a ideia de que os luxemburgueses e o Luxemburgo são europeus convictos da primeira hora. Recorde-se a este propósito o célebre episódio em que Juncker lançou o ultimato aos eleitores luxemburgueses de que se não votassem em favor da Constituição, ele se demitiria. Argumentou então dizendo que se os luxemburgueses votassem contra a Constituição era como se votassem contra o trabalho que ele desenvolvera durante 10 anos. A população fez "fila indiana" atrás do seu primeiro-ministro.

Um dos pontos que pode igualmente tender em favor de Juncker é o facto de a maioria dos Estados-membros dos 27 desejar como primeiro presidente do Conselho da UE um representante de um pequeno país e que já tenha dado provas de integração europeia, ou seja, que faça parte do Espaço Schengen e/ou da Zona Euro. O Luxemburgo responde aos três casos de figura.

Outros candidatos em liça

Mas há outros possíveis candidatos a este posto, como o do seu homólogo holandês Jan Peter Balkende. Também os nomes do britânico Tony Blair, do alemão Frank-Walter Steinmeier, do finlandês Olli Rehn, do sueco Carl Bildt e da austríaca Ursula Plassnik têm circulado.

Segundo o analista do Centro de Política Europeia, Antonio Missiroli, o favorito é o holandês Jan Peter Balkende. Para outros, o cargo vai disputar-se entre o antigo primeiro-ministro britânico Tony Blair e Juncker.

Durante algum tempo considerado como favorito para a presidência do Conselho Europeu, Tony Blair surge hoje isolado e abandonado. O próprio presidente francês Nicolas Sarkozy, que o apoiou no início, declarou recentemente que "o facto de a Grã-Bretanha não pertencer à Zona Euro é um problema para escolher um candidato britânico". Também a chanceler alemã Angela Merkel não parece entusiasmada com a nomeação de Blair. A Merkel juntam-se os países do Benelux e a Áustria.

Paradoxalmente, a eurocéptica imprensa britânica está a responder, só agora, com uma verdadeira campanha em favor do seu antigo primeiro-ministro para o cargo de presidente do Conselho Europeu.

Eurodeputado luxemburguês lança petição contra Tony Blair

Por iniciativa de Robert Goebbels, eurodeputado socialista luxemburguês, cinco deputados europeus entregaram na semana passada no Parlamento Europeu (PE) uma declaração escrita sobre a nomeação do futuro presidente do Conselho Europeu, deixando bem claro que o antigo primeiro-ministro inglês Tony Blair não corresponde a esse perfil.

Segundo estes deputados (um luxemburguês e quatro alemães) pertencentes aos três maiores grupos políticos - Robert Goebbels (Partido Socialista Europeu, PSE), Klaus-Heiner Lehne (Partido Popular Europeu, PPE), presidente da Comissão Jurídica, Herbert Reul (PPE), presidente da Comissão da Indústria, Jo Leinen (PSE), presidente da Comissão do Ambiente e Jorgo Chatzimarkakis, coordenador do Grupo Liberal - "o PE não pode simplesmente registar esse futuro presidente do Conselho, que será a cara e a voz da Europa". Para estes eurodeputados, o futuro presidente tem de vir de um país que adoptou ou que quer adoptar o Euro, ser originário de um Estado pertencente ao Espaço Schengen e fazer parte de um país que não recusa a aplicação da Carta Europeia dos Direitos Fundamentais.

Goebbels sublinha que "este perfil não corresponde em nada ao candidato preferido de alguns grandes países, nomeadamente Tony Blair?"

Goebbels espera que, pelo menos, metade dos parlamentares europeus assine a declaração, porque nesse caso o documento terá valor de resolução adoptada pelo PE e será publicada no Jornal Oficial da UE.

Entretanto, decorre amanhã e na sexta-feira em Bruxelas o Conselho Europeu em que será discutida esta questão do futuro presidente do Conselho Europeu, que o Tratado de Lisboa prevê. Falta ao tratado ser ratificado pela República Checa. O Tratado de Lisboa confere aos chefes de Estado e de Governo, reunidos no Conselho Europeu, o direito de designar o futuro presidente permanente do Conselho Europeu.

Sem comentários:

Enviar um comentário