sexta-feira, 31 de julho de 2009

Crónica: "Vê-se o fumo, falta o fogo!"

O Bloco de Esquerda acusou José Sócrates de abusar do aparelho de Estado para fazer tráfico de influências. O porta-voz do PS desmentiu, mas Francisco Loução manteve a acusação. Tudo por causa de um convite do PS à militante do Bloco, Joana Amaral Dias. Manuela Ferreira Leite esteve retida em casa, com uma gripe de que muitos duvidam.

O Bloco de Esquerda animou a actualidade política do último fim-de-semana, ao acusar José Sócrates da prática de tráfico de influências, usando para isso o aparelho de Estado.

De acordo com Francisco Louçã, tudo terá começado com um convite do primeiro-ministro à militante e antiga deputada do Bloco de Esquerda para integrar as listas do PS, em segundo lugar, pelo círculo de Coimbra. Joana Amaral Dias terá recusado e, na recarga, Sócrates ter-lhe-á prometido um lugar na direcção de um instituto público da área da saúde, em troca do apoio de Joana Amaral Dias à lista do PS. Este segundo convite terá sido também recusado.

José Sócrates negou os dois episódios, mas Louçã manteve a acusação. Para a opinião pública, "este mato deve ter algum coelho", porque Joana Amaral Dias, além de nascida em Coimbra, provém de uma família de prestígio na cidade. Os pais são médicos conhecidos e o avó era o catedrático da Faculdade de Medicina Nunes Vicente, apelidado por muitos sectores como o fundador da psiquiatria portuguesa.

Já se percebeu que o assunto comporta algum melindre para os socialistas que pretendem silenciá-lo. Pelo contrário, o Bloco de Esquerda está a usá-lo como arma de campanha e é bem possível que a líder do PSD, no regresso à actividade, venha também falar no assunto.

Manuel Ferreira Leite cancelou todos os compromissos, desde sexta-feira, por se encontrar retida em casa, com gripe. Mas muita gente duvida da desculpa, que parece forjada para evitar Alberto João Jardim, por dois motivos, qual deles o mais incómodo. A líder estava convidada para participar na festa anual do PSD/Madeira e, se fosse à ilha, seria com toda a certeza confrontada com o desejo expresso, há dias, por Alberto João Jardim, para que, no futuro, a Constituição da República proibisse o comunismo.

Mas há um segundo factor de desconforto que os jornalistas não deixariam passar em claro. Há um ano, o irrequieto Alberto João Jardim não convidou a líder do partido para esta festa, argumentando que Manuela Ferreira Leite seria incapaz de ganhar umas eleições. Por essa incapacidade, não seria convidada. Este ano, mudou de ideias, mas a presidente do partido, afectada por uma gripe, preferiu ficar em casa.

O Presidente da República, de visita à Áustria, voltou a falar da possibilidade de um futuro governo PS/PSD, facto que desencadeou muitas críticas em círculos partidários e entre os analistas. Desde logo porque, ao admitir a possibilidade de um novo bloco central, Cavaco Silva está implicitamente a reconhecer que o partido vencedor das próximas eleições não terá maioria absoluta. Tratando-se de um sentimento geral, a verdade é que o Presidente da República não deve deixar escapar os seus vaticínios, sob pena de vir a ser acusado de estar a pressionar o eleitorado.

Curioso é também o facto de a investigação ao caso do Banco Português de Negócios estar a produzir noticiário abundante que ainda não foi tema da campanha eleitoral. Depois de Dias Loureiro e Oliveira e Costa, outra figura do cavaquismo, o antigo ministro da Saúde, Arlindo de Carvalho, foi constituído arguido. A Polícia Judiciária está interessada em apurar a origem da fortuna que construiu, ele que começou a sua vida como técnico de som da Emissora Nacional, licenciando-se já em idade madura, como trabalhador-estudante.

Ao fim de oito meses de prisão preventiva, Oliveira e Costa foi colocado em prisão domiciliária, com pulseira electrónica. De acordo com relatos da imprensa, foram colocados em sua casa alguns equipamentos de detecção para lhe controlar os movimentos. Esta medida de benevolência está a ser interpretada como o largar de uma batata quente, porque as investigações têm apurado responsabilidades de outras pessoas semelhantes às que são imputadas a Oliveira e Costa. Logo, se fossem todos avaliados pela mesma bitola, mais gente iria parar à prisão.

Sérgio Ferreira Borges,
analista político
(o autor publica semanalmente a coluna de política "Avenida da Liberdade" no CONTACTO)
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